quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Triste Marcha Pela Família e Contra o PT

A Triste Marcha Pela Família e Contra o PT

Enquanto acontecia a Marcha para Jesus em Boa Viagem no sábado dia 25 de Setembro, alguns pastores em Jaboatão lideraram uma outra marcha chamada de “Carreata Pró-Família” mas que está sendo mesmo denominda de “Marcha Pela Família e Contra o PT”. Isso me fez lembrar tristemente de uma outra marcha ocorrida em 1964, chamada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” em que também alguns pastores evangélicos tomaram parte. Aquela marcha foi usada para dar suporte ao golpe militar e o regime de repressão que se instalaria no Brasil naquele ano. Ali mesmo se iniciava a perseguição daqueles que pensavam diferente. Pastores que não se alinhavam com o discurso da direita evangélica foram denunciados por seus colegas de ministério como anticristãos e comunistas. Aqueles que não foram presos, torturados ou assassinados pelo regime militar tiveram a “sorte” de conseguir fugir para outro país, como foi o caso do então pastor presbiteriano Rubem Alves. Ele é um dos exemplos de pastores entregues ao regime por “irmãos” de igreja. Foi então em nome de Deus e em defesa da família que muitos cristãos acolheram, apoiaram e legitimaram o regime opressivo do governo militar.

Agora nós testemunhamos um pouco de repetição histórica com essa Marcha Pela Família e Contra o PT. Depois de terem feito uma campanha massificadora pela Internet e nas igrejas demonizando o PT, a direita conservadora evangélica vai as ruas levando essa mensagem de engano. Eles acusam o PT de querer instalar um regime de “iniquidade” no Brasil pois como alegam é o único partido que “fechou questão” sobre o aborto, a união civil de homossexuais e a legalização do uso de drogas. E que membros e parlamentares do PT que votassem contra essas resoluções seriam expulsos do partido. Nada mais distante da verdade. O Estatuto do PT é claro ao afirmar que o membro do partido poderá “ser dispensado do cumprimento de decisão coletiva, diante de graves objeções de natureza ética, filosófica ou religiosa, ou de foro íntimo” (artigo 13, inciso XV). E os partidos dos principais candidatos a presidência da república também já tomaram decisões semelhantes ao PT em relação a esses temas polêmicos, como o PV da Marina e o PSDB do José Serra.

O que esses líderes tem criado é um verdadeiro clima de histeria coletiva digna de cenas do filme “As Bruxas de Salém”. Eu tenho recebido relatos de evangélicos que estão sofrendo perseguição nas igrejas por causa dessa recente bandeira assumida por esses pastores. Cristãos estão sendo discriminados, demonizados e excluídos do convívio pleno com outros irmãos e irmãs. Outros tem sido ameaçados de maldição se ousarem votar em candidatos do PT. É claro que o PT por ser governo, pode e deve ser questionado, criticado e, se for o caso, reprovado. O que não devemos aceitar é uma campanha de ódio, calúnia e difamação contra um partido feita em nome de Deus e especialmente por parte daqueles que deveriam estar pregando a paz, o amor e a justiça.

Alguns desses pastores são os mesmos que nas eleições de 1989, 2002 e 2006 pregaram o voto contra Lula tentando incutir na mente dos fiéis que Lula iria fechar igrejas, proibir o evangelismo, impedir o culto nas ruas, iria cobrar impostos sobre dízimos e ofertas, entre tantas outras alegações. Essas mesmas acusações são utilizadas agora contra o PT citando de forma distorcida o PNDH. Infelizmente a “Carreata Pró-Família” serve a um propósito de velhos e novos políticos que querem tirar proveito da credulidade do povo evangélico. Então, por trás dessa campanha há um objetivo menos nobre que é o de apresentar candidatos que pretensamente teriam a missão de barrar o avanço da “iniquidade” no país. Iniquidade, como mostra o profeta Isaías (cap. 58), é mentira, pobreza, desigualdade social, violência e opressão. Mas infelizmente esses temas não parecem fazer parte dos discursos e pregações desses líderes cristãos.

Joabe G Cavalcanti é teólogo e sacerdote anglicano.

Um comentário:

  1. Lamento muito essa campanha que alguns setores da igreja fazem para alienar o povo.
    Sou cristão católico, e fico triste quando alguem vai votar em um candidato porque o padre fulano falou que o partido x é anti-cristão.
    Fico feliz com esse texto do senhor, pastor.
    Parabéns!

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