quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A UNIVERSIDADE DA PRIVADA: A UNIBAN, A CAVERNA E OS TROGLODITAS

As imagens do incidente que ocorreu na UNIBAN no dia 22 de Outubro ainda me causam revulsão. A estudante Geisy Arruda do primeiro semestre do curso de turismo vai a universidade usando um microvestido rosa. De mal gosto? Depende! Querendo chamar a atenção? Talvez! Convite a ser chamada de prostituta? Nunca! Muito menos ainda um apelo a ser atacada brutalmente por uma massa de estudantes que pareciam ensandecidos pelo que viam e que patrocinaram cenas dignas de grupos primitivos, puritanos e repressores. Quem ainda não viu as imagens deveria procurar assisti-las. As cenas são realmente repugnantes e assustadoras. A estudante acuada em uma sala de aula, e rapazes e moças como que sedentos de sangue tentando encurralá-la ainda mais. Alunos que saíam de suas salas para participar do coro do “joga pedra na Geni”. Ao ver as cenas a primeira associação que fiz foi com imagens de trogloditas saindo das cavernas pronto para atacar aquela que ousou invadir o território deles. É esse o tipo de comportamento e a atitude dos jovens que estão frequentando as nossas universidades? Será que não tiveram uma experiência eficaz do processo de socialização dentro da família, escola e trabalho antes de ingressarem em uma faculdade?

Bom, se o uso do vestido fosse demonstração de mau gosto, e fora do contexto, existem formas sutis e de acordo com as normas de convivência social que ajudam a pessoa rebelde a se adequar. Uma delas é não estimular elogiando, e a outra é ignorar mesmo. Especialmente se o modo de vestir da estudante estivesse ligado ao desejo dela de atrair a atenção dos outros sobre si mesma. Se o vestido estivesse causando algum tipo de desconforto ético, ou estivesse sendo ofensivo moralmente a sensibilidade talibânica de alguns, então o caminho seria uma reclamação à reitoria ou as autoridades competentes dentro da universidade. Porém o que aconteceu foi um irrefreável desejo de se fazer “justiça” com as próprias mãos, como se a estudante Geisy tivesse cometido um crime de dimensões catastróficas e que exigia uma reação punitiva imediata por parte daqueles que testemunharam a ocorrência do crime. Qual foi mesmo o crime? Hum? Ou o erro? Aquela manifestação extrema de intolerância demonstrou que as normas da civilização humana contemporânea parecem não ter chegado dentro dos muros daquela universidade.

Ja’ que a reação de boa parte parte do alunado daquela instituição pode ser assemelhada a de trogloditas eu vou arriscar uma interpretação sociobiopsicologica. Então me acompanhem nessa análise um pouco crua mais que tenta ser objetiva seguindo os critérios científicos que a universidade deveria estar adotando na análise do caso. A jovem estava na verdade, consciente ou inconscientemente, se “mostrando” como viável “reprodutora” (aqui não há nenhuma implicação de que ela estivesse se mostrando para sair com os rapazes, eu estou seguindo apenas uma linha de argumentação da sociobiologia). Bom, os rapazes perceberam a fêmea, mas talvez tenham ficado irritados com o fato de que havia uma luta interna dentro deles mesmos. Os impulsos básicos os empurravam para a garota, mas as normas vigentes na civilização contemporânea rezam que poder ver não é o mesmo que poder ter. Isso pode ser as vezes frustrante! Eles perceberam mas não conseguiram discernir entre seguir seus instintos mais básicos que faziam com que eles dessem atenção aquela aparente provocadora e a de reprimir esses impulsos sendo assim elevados a condição de humanos, de seres sociais que já não tratam outros seres humanos como presas. De qualquer forma eles conseguiram reprimir apenas em parte os instintos básicos, mas terminaram ainda que inconscientemente, agindo como animais. É aquela estória de animal faminto ao ver a presa, ou come ou simplesmente a trucida, ou as duas coisas.

E as moças que também participaram massivamente daquele linchamento? Elas perceberam que alguém estava “invadindo” o território delas ao usar de concorrência desleal. É claro que devem existir mulheres mais bonitas e sensuais naquela universidade que a dita estudante, e consequentemente ainda mais potencialmente viáveis reprodutoras. Mas é que a Geisy estava mostrando o que as outras não estavam, e então ela se sobressaia nesse jogo da seleção natural. Isso explica como as mulheres apareciam com tanta raiva, pois na cadeia evolutiva quem não luta fica para trás, e nao se perpetua reproduzindo. A Geisy com aquele danado vestido rosa desequilibrou o jogo da seleção natural e parecia querer alterar as regras do mesmo. Ela ousou quebrar o “cartel” que estabelecia o mesmo padrão de competição. Talvez o “X” da questão foi que tanto os rapazes quanto as moças que participaram daquele vergonhoso ato de linchamento social não souberam transcender e assim superar seus instintos mais animalescos. Esse palpite sociobiopsicológico pode explicar um pouco daquela reação irracional e o comportamento violento por parte daquele estudantes, mas não justifica em nada essa atitude que deve ser disciplinada no meio da nossa sociedade, especialmente num ambiente acadêmico que se proprõe a ser contexto aberto a livre circulação de idéias.

Quando no dia 08 de novembro o conselho universitário decidiu publicar a punição com pena de expulsão da estudante Geisy Arruda em grandes jornais de circulação, a decisão foi recebida com estupefação em várias partes do Brasil e do mundo. A medida foi depois revogada pela reitoria dada a repercussão do caso e a ameaça da intervenção do MEC. Eu penso que houve uma motivação financeira por trás da decisão, pois seria de menor prejuízo financeiro para a universidade se livrar de uma aluna do que de uma centena de alunos que agiram como rufiões. Mas do ponto de vista ético, as pessoas que tomaram aquela decisão estavam na verdade invertendo os papéis e fazendo da vítima o culpado. Seria o mesmo que dizer que uma moça que se veste com roupas provocantes, ou até mesmo indecentes, está pedindo para ser estuprada! Esse argumento já foi usado usado antes e muitas vezes! Quem não é pervertido, e predisposto a esse tipo de crime hediondo, não vai nunca estuprar, mesmo que aparecesse uma mulher nua diante dele gritando por isso. Mas como é que a UNIBAN decide que a jovem ao vestir o tal vestido e escolher o caminho mais longo pelos corredores ou rampas da universidade provocou ou foi a causadora de toda aquela situação? Será que a universidade conhecendo os alunos que tem sabia que aqueles trogloditas não tinham os meios de controlar aquelas reações vexaminosas? Será que as demais alunas tinham tanta razão de se sentirem “feridas” com aquela visão que iriam certamente reagir aos tapas e que assim fazendo estariam justificadas por conta da roupa e do passeio provocativo da Geisy?

Infelizmente a Uniban demonstrou que não está cumprindo o seu papel de criar o ambiente onde há espaços e oportunidade para a fomentação de convivência social, de tolerância, de saudável divergência, de troca de ideias, de questionamento crítico mas respeitoso, enfim de ajudar no desenvolvimento de cidadãos e cidadãos vivendo juntos em uma sociedade diversa. Quem ver e rever o vídeo, fica com a impressão de que a Uniban enquanto instituição mostrou que nem sequer consegue cumprir seu papel público, mas age como se fosse uma privada. E privada aqui não tem nada a ver com aquilo que é individual ou particular...

2 comentários:

  1. Não concordo com a atitude dos alunos em criarem todo este tumulto como se a faculdade tivesse se tornado um campo de batalha. Porém não acho que a roupa da Geyse era adequada para o ambiente, pois todos sabemos que para cada ambiente existe a maneira correta para se vestir.
    Na minha opinião tudo o que ela queria,já conseguiu: 15 minutos de fama. Saiu em todos os canais de TV (nacionais e internacionais),virou mais uma entre tantas celebridades instantâneas. E agora o ápice de quase todas as mulheres exibicionistas: a PLAYBOY está de olho nela pra ser capa.
    Geyse e a professora Jaqueline de Educação Infantil (baiana, se não me engano) que também ganhou fama na internet dançando a infeliz coreografia do "biquini enfiado" na verdade queriam só um pontapé inicial para realizar seu sonho: aparecer para o mundo! Pena que de uma maneira tão medíocre: exibindo o corpo e não por ter conteúdo.

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  2. Angela,
    Eu nao tenho nenhuma simpatia pelo tipo de roupa que a Geisy estava usando, nem tampouco aprecio o exibicionismo. Se isso foi de muito mau gosto dela, ou tentativa de exibicao, e isso acontece o tempo nos mais diversos ambiente sob diferentes formas, nada justifica aquele tipo de reacao. Se o vestido foi feio ou bonito, sexy ou despudorado, contido ou indecente, nao poderia jamais ser a causa para aquela atitude violenta. Como eu disse se algumas pessoas se sentiram ofendidas pela forma da Geisy se vestir elas certamente teriam meios civilizados de reclamar. Mesmo encarando o modo de vestir da Geisy como um erro crasso, aquele comportamento animalesco dos alunos e alunas da UNIBAN e' simplesmente indefensavel sob qualquer otica. E nisso no's tambem concordamos.
    P.S. Eu nao to nem ai para o fato de que ela vai posar para a Playboy (rsrsrs!). Mas isso so' e' prova que ainda ha' pessoas 'avidas para "devorar" esse tipo de presa. Agora, do meu dinheiro nem ela nem a Playboy nao vao usufruir. A minha atencao e energia estiveram voltadas para questionar a reacao dos alunos e a decisao do conselho universitario.

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